quinta-feira, setembro 28, 2006

Os missionários.


Tenho ouvido alguns amigos comentarem que o Iraque se tornou no novo Vietname. Compreendo a razão porque se pode dizer isso, mas surgem-me sempre uma mão cheia de diferenças que vale a pena lembrar.

Acima de tudo, no Vietname os americanos estavam a ganhar a guerra, a ofensiva de Tet foi um fracasso militar, apenas a genial gestão de propaganda pelos vietcong conseguiu que a opinião publica forçasse o governo federal a assinar a paz antes que as tropas americanas os aniquilassem por completo no terreno. No Iraque è exactamente o contrário. Os EUA estão a ganhar a guerra nos media apesar de a cada momento que passa o balanço de forças no terreno estar mais a favor dos grupos de "resistência".

No Vietname a chacina de populações civis era estrategicamente favorável à América. Os americanos dedicaram-se largamente a uma politica de extermínio/deportação de populações como parte de uma estratégia de "terra queimada". (E não estou a tentar fazer um trocadilho com napalm... juro) Não interessava muito se uma população era eliminada pelo vietcong por ser "pelo sul" ou era atacada pelos americanos "por ser pelo norte", Quanto menos aldeões cultivassem os campos mais problemas logísticos o vietcong tinha. No Iraque qualquer matança de inocentes vai contra a agenda americana pois prova a falta de controlo da situação. É uma situação nova para os comandos militares, não poder cometer crimes contra a humanidade.

Mas acima de tudo guerra do Vietname foi uma guerra de ideologias, numa época em que se era ou "azul" ou "vermelho", uns iam matar comunistas os outros iam matar capitalistas, ambos iam tornar o mundo melhor. Para tristeza de muita gente, alguns dos quais ainda escrevem apaixonadamente por esse mundo fora, a época do azul e vermelho acabou. Misturaram-se as cores e agora tudo o que temos è uma grande paleta de castanhos. Ninguém pode seriamente acreditar que a guerra do Iraque se travou para defender o estilo de vida ocidental, ou as ideias de Liberdade e Democracia, nem sequer que se combate lá para acabar com o terrorismo. O Ocidente depois de ganhar a guerra-fria está a lutar, literalmente, para sustentar um modelo energético *insustentável*. Está a combater, em suma, contra si próprio.

È interessante fazer a correlação entre os países com reservas de petróleo acima dos cinquenta milhares de milhões de barris (Venezuela, Rússia, Irão, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e E.A.U), os países com lideres extremamente críticos à política americana (Mahmoud Ahmadinejad e Hugo Chávez Frías) , e aqueles que são governados por governos fantoche. Estranhamente o único que sobra è a Rússia, que curiosamente è também o único da lista com um vasto arsenal nuclear.

I’m lovin’ it!

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Excelente post!

Sim, de facto, uma análise pouco profunda pode levar-nos a fazer comparações pelo facto de ser o mesmo pais o agressor e se ter formado, uma vez mais, um clamor anti-guerra (ao contrario do que aconteceu, por exemplo, com a Guerra fria). Mas apesar de diferentes em muitos aspectos, são ambos erros, e à Guerra no Iraque acresce o facto de se tratar de um erro repetido. Da primeira vez poder-se-ia considerar que estavamos perante uma crise de adolescencia da mais nova potencia mundial e de alguma inesperiência em politica externa resultante da curta história. No entanto, da segunda podemos já duvidar de má fé, interesses economicos e possivelmente guerrinhas pessoais. É legitimo que pensemos assim, caso contrário seria impossivel, justificar tal acontecimento. Outras respostas para esta Guerra resvalam quase sempre na infantilidade de pensamento e substima os estrategas que orbitam em torno das Administrações sucessivas.

sexta-feira, 29 setembro, 2006  
Blogger JG said...

Sim, ainda mais que depois da guerra do Vietname vários analistas respeitados na administração americana teorizaram que teria sido possível conter o avanço do comunismo no sudeste asiático sem entrar numa guerra-proxy no Vietname.
Não computa que os alunos desses analistas agora tenham criado não uma mas duas guerras proxy para atrair os activistas islâmicos.

Uma semelhança que decerto as duas guerras têm: No caso da guerra do Vietname ela levou ao enfraquecimento dos regimes não-comunistas, e não alinhados, de Laos e Camboja e o surgimento de formas ainda mais extremas de comunismo nesses dois países. (acabou por ser o próprio Vietname unificado a invadir o Camboja para acabar com a insanidade Khmer-rouge) Depois de alguns anos de guerra ao terrorismo já estamos a ver coisas como a radicalizarão do panorama político do Líbano e a crispação de populações muçulmanas "calmas", como a Indonésia ou o Egipto.

sexta-feira, 29 setembro, 2006  

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