Os missionários.
Tenho ouvido alguns amigos comentarem que o Iraque se tornou no novo Vietname. Compreendo a razão porque se pode dizer isso, mas surgem-me sempre uma mão cheia de diferenças que vale a pena lembrar.
Acima de tudo, no Vietname os americanos estavam a ganhar a guerra, a ofensiva de Tet foi um fracasso militar, apenas a genial gestão de propaganda pelos vietcong conseguiu que a opinião publica forçasse o governo federal a assinar a paz antes que as tropas americanas os aniquilassem por completo no terreno. No Iraque è exactamente o contrário. Os EUA estão a ganhar a guerra nos media apesar de a cada momento que passa o balanço de forças no terreno estar mais a favor dos grupos de "resistência".
No Vietname a chacina de populações civis era estrategicamente favorável à América. Os americanos dedicaram-se largamente a uma politica de extermínio/deportação de populações como parte de uma estratégia de "terra queimada". (E não estou a tentar fazer um trocadilho com napalm... juro) Não interessava muito se uma população era eliminada pelo vietcong por ser "pelo sul" ou era atacada pelos americanos "por ser pelo norte", Quanto menos aldeões cultivassem os campos mais problemas logísticos o vietcong tinha. No Iraque qualquer matança de inocentes vai contra a agenda americana pois prova a falta de controlo da situação. É uma situação nova para os comandos militares, não poder cometer crimes contra a humanidade.
Mas acima de tudo guerra do Vietname foi uma guerra de ideologias, numa época em que se era ou "azul" ou "vermelho", uns iam matar comunistas os outros iam matar capitalistas, ambos iam tornar o mundo melhor. Para tristeza de muita gente, alguns dos quais ainda escrevem apaixonadamente por esse mundo fora, a época do azul e vermelho acabou. Misturaram-se as cores e agora tudo o que temos è uma grande paleta de castanhos. Ninguém pode seriamente acreditar que a guerra do Iraque se travou para defender o estilo de vida ocidental, ou as ideias de Liberdade e Democracia, nem sequer que se combate lá para acabar com o terrorismo. O Ocidente depois de ganhar a guerra-fria está a lutar, literalmente, para sustentar um modelo energético *insustentável*. Está a combater, em suma, contra si próprio.
È interessante fazer a correlação entre os países com reservas de petróleo acima dos cinquenta milhares de milhões de barris (Venezuela, Rússia, Irão, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e E.A.U), os países com lideres extremamente críticos à política americana (Mahmoud Ahmadinejad e Hugo Chávez Frías) , e aqueles que são governados por governos fantoche. Estranhamente o único que sobra è a Rússia, que curiosamente è também o único da lista com um vasto arsenal nuclear.
I’m lovin’ it!